Os Sonhos: o que eles são?


Os sonhos sempre tiveram as suas representações e significados; na maioria das vezes não tendo nenhum embasamento cientifico. Este cenário começou a mudar quando Sigmund Freud começou a investigar "o mundo dos sonhos", sendo este segundo ele, uma das maneiras pelas quais o inconsciente se manifesta. Foi uma revolução na virada do século, quando o mesmo pública a "Interpretação dos Sonhos". Apesar do livro não ter sido tão vendido na época, foi um marco, pois iniciou-se a psicanálise.



Quando escreveu a Interpretação de Sonhos, Freud havia chegado a muitas conclusões, entre elas a constituição do aparelho psíquico. A Primeira Tópica do aparelho psíquico vai dar respaldo a toda sua teoria sobre os sonhos. A concepção de consciente e inconsciente empresta lógica a todo trabalho da elaboração onírica.


A narração feita pelos pacientes mostrava que os sonhos eram destituídos de sentido, tanto para o sonhador como para o analista. A causa para essa deformação onírica somente poderia ser explicada por uma força coerciva. Freud, ao afirmar que todos os sonhos tem um sentido, como todas as outras produções do inconsciente, acreditava que empregando a associação livre nos relatos dos sonhos, poderia chegar à interpretação dos mesmos. Isso porque, na associação livre subentende-se que há certa estabilidade nos laços que unem cada representação. Mas, a associação livre está subordinada a uma lógica que se forma de modo inconsciente. Nós só tomamos consciência desse processo, após a sua realização. Existe uma causalidade associativa que não depende da vontade para se manifestar.
Dificuldades para interpretar os sonhos - a Censura



No cap.V, da Interpretação de Sonhos, Freud narra vários sonhos de seu paciente, e ao comentá-los demonstra que a dificuldade para se compreender o sentido dos sonhos era muito grande. Freud se deparava com sonhos simples, de fácil interpretação, e que comprovavam sua tese de que os sonhos são realização de desejos, estando nesta categoria, na sua maioria, os sonhos infantis e aqueles que não precisam de um trabalho de análise para sua interpretação. Mas, existem sonhos de difícil decifração; sonhos desagradáveis, os pesadelos. Como afirmar nesses casos que o sonho seria a realização de desejos?

Freud desenvolve então a noção de censura, que seriam tendências que dominam a consciência de uma pessoa, com a finalidade de inibir outras tendências que lhe são opostas, forçando assim essas tendências para o inconsciente, fazendo com que dali não saíssem. Mas, só a existência da censura não resolvia o problema; havia uma força coerciva que impedia que o fato traumático fosse consciente. Só a existência dessa força poderia explicar porque alguém esqueceria um fato que lhe causava sofrimento, problemas de conduta Freud definiu essa força, chamando-a de resistência.
Ainda assim, se essa força, a resistência, não permite que o fato traumático chegue ao consciente, o que, ou, que outra força retirou o fato traumático do consciente mandando-o para o inconsciente, para evitar a dor, o sofrimento, que seriam insuportáveis ao paciente? A essa segunda força, Freud deu o nome de repressão O trauma reprimido estará sempre tentando voltar à consciência, mas a resistência impedirá, causando os sintomas neuróticos, ou os sonhos. Freud refere-se à repressão, como a pedra angular  em que repousa toda a estrutura da psicanálise.
A censura refere-se ao conflito psíquico provocado pelo recalque. Nos sonhos ocorre uma diminuição do rigor da censura e o aparecimento de sentimentos, representações, imagens desagradáveis, que podem ser justificados por um fracasso no processo de elaboração onírica.

Os desejos que provocam sonhos, não são, a maior parte das vezes, desejos aceitáveis pela consciência; pelo contrário, são desejos que ela repreende e rejeita. Sendo assim, o retorno do desejo reprimido pode causar prazer e desprazer. O pesadelo é considerado por Freud como o exemplo típico do conflito entre censura e desejo. A tese freudiana passa a ser então de que o sonho é uma realização disfarçada de um desejo recalcado e esse desejo é sempre originário, ou parte sempre do inconsciente.
O sonho se apresenta de dois modos; um, o conteúdo manifesto, é o sonho que pode ser lembrado e relatado. Outro, o conteúdo latente, seria o conteúdo oculto e inconsciente, que provoca o sonho, e que leva a análise. A elaboração onírica é, portanto o trabalho de transformar os pensamentos latentes em conteúdos manifestos, distorcendo esses pensamentos de tal forma que o sonho, ou os pensamentos nele apresentados, vai ser inacessível ao sonhador. O trabalho inverso, isso é, partindo do manifesto para chegar ou latente, Freud chamou de interpretação.
Como vimos na primeira tópica desenvolvida por Freud, para tentar burlar a censura e procurar a descarga do desejo via pré-consciente/consciente, o conteúdo latente precisa de um mecanismo e a elaboração onírica pode usar vários deles; deslocamento, condensação, dramatização e elaboração secundária, sendo os dois primeiros os mais comuns.
A condensação seria um “resumo” do conteúdo latente. Esta noção de condensação significa que cada elemento do conteúdo manifesto depende de várias causas latentes, dando a entender que o sonho pode ter vários significados, ou seja, que um“significante” no sonho ( um cachorro p.ex.) pode significar várias coisas. O sonho pode criar uma pessoa coletiva, onde podem  se reunir diferentes traços de diferentes pessoas, ( vários significantes que juntos vão representar uma única coisa ) ou, em outros casos, reforçar traços comuns e apagar as diferenças. Esse mecanismo também aparece nos lapsos e nos chistes.
Quanto ao segundo mecanismo, o deslocamento, é o processo pelo qual uma carga afetiva, (emoção), ou uma ideia (representação) se destaca do objeto originário, para um segundo objeto acessório, que vai funcionar como uma alusão ao primeiro objeto. Pode também ser feito um deslocamento para um objeto sem importância. Em outras palavras, o representante ideacional e verbal do desejo (quebrar a janela), vai ter o significante tão distorcido que vai conseguir chegar ao consciente em forma de sonho ou de sintomas.
Os outros dois mecanismos, dramatização, onde há no sonho o predomínio das imagens e não da fala e a elaboração secundaria, em que é feita uma remodelação do sonho, com a intenção de torna-lo coerente, também são efeito da censura. Todos os mecanismos que deformam o sonho o fazem  em função da censura. O sonho é um sinal e um sinal porque ele é um efeito e todo efeito é um sinal de sua causa. Isso acontece com todas as produções do inconsciente, tanto nos estados normais como nos patológicos.
Na Interpretação de Sonhos Freud  cita ainda, quais podem ser as fontes do sonho, a probabilidade do sonho ser origem, também, de um processo interno, as características da memoria no sonho, e descreve muito pormenorizadamente o processo da angustia no sonho, destacando o caráter sexual e a atuação da libido nesse tipo de sonho.
Para Freud, a interpretação dos sonhos deveria ser iniciada sempre coma a avaliação dos fatos acontecidos com o sonhador no dia ou dias anteriores ao sonho.  Esses fatos serão sempre um dos componentes do conteúdo do sonho e essa condição é sempre confirmada.

Ao contrário do que a maioria pensa, os sonhos são guardiães do sono, conforme comprova Freud em sua teoria.



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